Ainda não sentei na janela da vida
Ainda vejo as montanhas nos reflexos dos outros
Ainda sento no último lugar da última fileira
Deste teatro de monstros e fadas seminuas
Vejo muitos lugares vazios
Onde adoraria pousar minhas pesadas asas
Da peça que há muito começou
Mas ainda não avistei as cortinas se abrirem
Nenhuma luz paira sobre minha cabeça
Nenhum sussurro ao léu chega a tocar meus tímpanos
Ainda que haja muito tempo para aprender
Eu ainda nem aprendi a escrever
Meus pensamentos dinossauros ainda são antigos
Como antigos são os versos dos livros sagrados
Que ainda hoje se digladiam entre si
Como posso ser jovem se ainda não nasci?
As cruzes espalhadas pela paisagem
São os enfeites do meu carnaval
E a poeira que insiste em soprar
Dão um toque especial em minha árvore de natal
Sinto uma brisa que me acalenta a alma
E em como toda peça sem graça e comum
Quase chego a sonhar num instante de desatenção
Mas a brisa é tão sincera e profunda que toca meu coração
Ao acender as luzes do espetáculo
Como num passe de mágica, me vejo no meio do palco
De terno e gravata, deitado sobre uma mesa de marfim
Mesmo imóvel, fiquei contente, pois todos olhavam pra mim
