Leões e aves não vivem mais
Eles não caçam, não voam
Vivem em seus cantinhos infernais
E todos ainda os admiram
Vou vestir a minha sombra
Não quero morrer num asilo
Ou num zoológico para animais sem alma
Que não cantam nem sentem dor
Acostumei-me aos remédios sem bula
E eles já não fazem tanto efeito
Vivo prezo em minha própria jaula
Atordoado pelas injeções de despeito
Senti uma brisa leve em meu rosto esta manhã
Sopros de uma vida que se foi há muito tempo
Cortando minha face como uma lã de vidro
E minhas lembranças sangraram
Ainda olho para o céu com medo
Ainda me ajoelho pedindo asas
Estou pronto, parado à beira do abismo
Mas as respostas que recebo são sempre as mesmas
Sinto-me um anjo caído na terra prometida
Mas sem sementes para plantar
Um anjo parado em frente às portas do céu
Mas sem vontade de entrar
