As mãos não se renderam à verdade
Não aguentaram a raiva
Não suportaram a saudade
As mãos não ficaram limpas
O ódio no teu olhar foi escondido
Estava longe para poder ver a escuridão
Longe demais para sentir o frio
Mas estava perto para sentir a sua devastação
Tomou a teu punho as certezas
E empunhou-as contra teu coração
E com um suave golpe
Acabou com sua apreensão
Logo depois em seus pulsos
Colocou a faca e seu gume liso
Escorregou lentamente sobre suas lembranças
E caiu no chão como uma fruta madura e podre
Seu sofrimento escorria lentamente
Conforme fora devorando a morte
E suas lágrimas caiam lentas
E em seu pulso um belo corte
Escorrendo em seu rosto
As lágrimas tomaram conta da escuridão
Entranharam em cada poro de tua pele
E anestesiaram o seu coração
Como o sangue saíra lento
Parecendo adivinhar que os abutres estavam pertos
E com timidez o vermelho empalidecia seu corpo
Derramando a alma e o espírito que estavam abertos
Quase sem força em seus poucos batimentos
O coração estava se rendendo
Nele ainda havia esperança
Mas a guerra estava quase perdida
A dor de ver suas esperanças ali
Tornaram a raiva quase cega
Em uma doce e nobre lembrança
Que seria a última naquela madrugada
Mesmo sem muito a fazer
Um grito surge ao fundo de sua garganta
Que quase afogada em suas próprias lágrimas
Tentou um pedido de ajuda
E em nenhum momento ouviu a resposta
E em nenhum momento sentiu-se viva
Ficou ali por mais alguns minutos
Esperando que uma luz pudesse acender
Morreu as três da manhã
Sem qualquer tentativa de ajuda
Com todos os desejos recuados
E um olhar quase triste
Mas alguém estava ali
Não tomou como solidária
E olhou o fim do seu amor
Com um olhar de puro ódio
Mas ainda que pudesse reagir, não o fez
E mesmo que pudesse ajudar, não o fez
Apenas olhava nos olhos de seu falecido amor
Parecendo ter vontade de matá-lo outra vez
