Ninguém bateu à porta esta manhã
Convidei a se sentar e lhe ofereci café
Havia acabado de acordar, estava tonto
E ainda em transe começamos a conversar
A presença de Ninguém em minha sala
De fato, acabou me tranquilizando
Por horas, debatemos aspectos da vida
O nascer, viver, sonhar e até sobre a morte
Ninguém citava poemas antigos
Sobre às árvores lá fora
Os passarinhos que brigavam à janela
Parecia-me um velho amigo
Percebi, como Ninguém olhava em volta
Parecia procurar uma foto, um fato
Algo desorganizado ou fora de lugar
Até mesmo uma sombra, um espírito
Incrível como Ninguém se importava
Com o fato da minha solidão
Meu respirar pesado e atônito
Meus últimos dias de lucidez
Ninguém se levantou
Ajeitou a xícara com decoro à mesa
Parou à porta como outrora
Agradeceu o café e foi embora
