Encontrei Clarisse na terra do nunca
Uma Wendy mais melancólica e sutil
Com asas estranhas e pálidas bochechas
Cheiro doce e pensar sombrio
Entre uma ou outra esquizofrênica conversa
Algum tom de timidez e sobriedade
Muito a se fazer em tão pouco tempo
Fomos nos tocando com olhares
O que para mim era claro, para Clarisse escuro
O que para mim era tão simples
Para Clarisse, impossível
Era um choque mental, compreensível
Nela, asas que nasceram tortas
Asas de ouro, pesadas e rígidas
Plumas que brilhavam e não voavam
Tanta riqueza, tanto pesar
Como em toda boa história, havia um pirata
Obcecado por seu voador navio e seu cachimbo
Sua rizada era fúnebre, suas mãos amarelas
Seu andar arrogante e olhar vampiro
E Clarisse aprisionada por cordas infinitas
Invisíveis e arrochadas em cada junta
Uma jaula de palavras bonitas e frases torpes
Um sentir pesado, amordaçado, coagido
Clarisse está sem gás, sem força e sem juízo
Está perdida dentro de sua própria cabeça
Seus pensamentos enviesados e iludidos
Suas ações auto flageladoras, cruéis
Acendi uma luz em sua caverna de opções
E mesmo assim relutara, com olhos fechados
Mostrei quantos nós cegos a prendiam
E mesmo assim, de nada adiantou
Quando fui obrigado a acordar desse infame pesadelo
Algo havia transformado em mim, senti estar preso
A luz do meu quarto não acendia e não haviam portas
As janelas estavam pequenas e estava deitado no chão
Ouvi alguém gritar em desespero, parecendo me chamar
Mas chamavam por Clarisse
E não conseguia mais me mover
Tudo foi ficando mais escuro, frio e meus olhos não abriram mais
