Na vastidão do rio mais seco
Escuridão dos olhos cangaceiros
Nas pancadas da chuva do sertão
Meu primeiro trago
A santa chora pela vela
Desandou a procissão
Nordestino, fino e peão
Todos ajoelhados
Nossa história tão mal contada
Falada, velada e calada
As gotas, da vela, queimam
Os olhos das veredas arrepiam
Cigarro no dedo e carvão
Entupidas veias da paixão
Cachaça na encruzilhada, sede
Seca pele do calcanhar rachado
Cobertor de palha e palma
Água da seca borrada de barro
Barreiras, sem cercas, invisíveis
Catingueira retorcida de flores espinhos
Cascavel que cochila com fome
Trovões que não encontram o chão
Terreiro, amarração e laço
Xiquexique, panela e pilão
A cigarra que canta desacorçoada
Inibida e empalhada
A melodia bisonha dá um furo
É a fome que foge, pula o muro
