Lembra de quando nos fartávamos
Daqueles quarenta e dois graus de sombra
De quando deitávamos
Naquelas gotas de suor da chuva
E pensávamos que tudo aquilo permaneceria lá
Intocável pelo tempo
Lembra de quando moldamos aqueles sopros
De pequenos grãos de areia
De quando fecundamos aquelas mentes
Que precisavam apenas de adubo
E pensávamos que tudo aquilo permaneceria lá
Intocável pelo tempo
Lembra daqueles pequenos meninos que nós ajudamos
A se tornarem grandes ondas
E daqueles grandes muros
Que com um toque de tinta fazíamos pequenos buracos
E pensávamos que tudo aquilo permaneceria lá
Intocável pelo tempo
Lembra de quando escrevi nossa vida num pedaço de papel
E você o amassou e guardou com receio
De quando eu estava distante, à beira da morte
E mesmo sendo impossível, você me abraçou
E pensávamos que tudo aquilo permaneceria lá
Intocável pelo tempo
Veja que tudo isso que pensamos há muito tempo
Ainda está aqui
Tudo bem guardado, embalado e preservado
Numa sacola viva de carne e osso
Que ainda pulsa e permanecerá pulsando
Intocável pelo tempo
