Eu vi pregos batendo firme nos martelos da minha mente
Senti a semente comendo os frutos da minha inteligência
Colei as partes quebradas da minha cabeça sobre meu pescoço
Olhei-me no espelho e não vi mais nada além da minha infância
Andei pelos buracos das ruas que passavam por mim
Viajei nas asas das borboletas que ainda eram lagartas
Trocava de pele como serpentes engoliam serpentes
Bebia decisões, engolia rumos e degustava ideias
Quando algo dava certo é que tudo estava torto
Quando estava por cima é que tudo havia ido pelo ralo
Fechava os portões e pulava os muros das oportunidades
Vivia preso e sozinho do lado de fora das gaiolas
Tinha amigos que ainda hoje moram comigo
Reclamava por não ter do que reclamar
Vi os negros pichando de branco um patrimônio nacional
E vi os brancos com caras pintadas de preto no dia da independência
Demorava horas para contar as horas que passavam depressa
Passava rápido pelo tempo lento que queria me atrasar
Percebi que não havia relógio que pudesse parar o dia nem à noite
Então puxava o tapete das sujeiras que me induziam a realizar
Coloquei a mão nos relógios do tempo e brinquei como quis
Agora não sei mais como organizar o que é presente, passado e futuro
Não sei se ficarei mais velho, mais feio ou mais forte
Só sei que mesmo não sabendo onde estou, ainda estou como quero
